terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Para Aqueles que Vivem do Passado

Porque as pessoas gostam de viver do passado? Fico pensando o que fazem os críticos de música ao compararem o Guns N’ Roses de 1987 com o de 2008. São 21 anos de diferença! É no mínimo burrice. Isso porque estamos falando de dois mundos completamente diferentes. Um deles, marcado pela volta do rock às paradas de sucesso, além da grande força das gravadoras no show business. Outro, depois de várias gerações do Ipod, onde as gravadoras já não são tão fortes assim, os grandes nomes já nem estão no mercado do entretenimento e a música pode ser baixada em um simples computador em qualquer lugar do mundo. É aí que surge o maior desafio: como vender música quando se pode tê-las de graça. O novo CD do Guns N’ Roses (esse mesmo que você já sabe o nome) é um ótimo exemplo de tudo que está nas linhas acima. Depois de um longo tempo de hiato, Axl Rose volta para dizer que ainda está vivo e que é capaz sim de lançar um material realmente novo. Diferentemente do AC/DC com “Black Ice”, não parece que Mr. Rose está preocupado em sentar na fama e fazer o mesmo de sempre. A prova disso são as músicas do novo CD. Elas são repletas de camadas instrumentais vigorosas, sendo responsáveis por uma massa sonora viva e resplandecente. A energia do novo trabalho do Guns N’ Roses também é algo diferente, contrastando com os vários lançamentos de bandas que adoram mergulhar em uma atmosfera insossa e sem “algo a mais”. E é exatamente esse “algo a mais” e a coragem de Axl Rose de negar o mundo de 1987 que colocam o novo CD do Guns N’ Roses onde ele deve ficar: sofisticado, completamente disforme, que já nasceu com seus méritos. Mas para aqueles que gostam da mesmice de sempre, que vivem do passado, aí vai uma boa notícia: a voz de Axl continua a mesma. Versátil, marcante e distorcida. Aliás, o retrato perfeito dos tempos que vivemos hoje, caso você não tenha notado ainda. Então seja bem-vindo à Democracia Chinesa.

Chinese Democracy

Guns N’ Roses

terça-feira, 11 de novembro de 2008

O Mesmo de Sempre

Antes de tudo quero dizer que eu juro. Juro que tentarei ser imparcial neste artigo. Vamos então aos fatos. Eis que chega às lojas de todo o mundo o novo CD do AC/DC. Nome: Black Ice. Digo novo, mas acho que a palavra mais adequada é “recente”. Isso porque encontramos em Black Ice tudo aquilo que fez o AC/DC a banda que sempre foi. Está tudo lá. Pode conferir. Riffs marcantes, solos empolgantes, simplificados e duros. Baixo pulsante e em sintonia perfeita com a bateria, além do mesmo timbre de voz (amado por uns e odiado por outros). Sem esquecer, é claro, das letras, que são puro “school rock”, juvenis e (algumas vezes) ingênuas. É por tudo isso que é no mínimo interessante ver que, mesmo diante de um cenário em que tudo está em constante mudança, o AC/DC continua exatamente o mesmo. Nada novo. Tudo igual. Até mesmo o nome do CD relembra o grande clássico da banda: Back in Black. A verdade é que o tempo não parece passar para Angus Young e sua trupe. Nem mesmo o iTunes é capaz de mudar a receita que consagrou a banda. Isso é incrível! Temos de dar crédito por isso. Mas cabe aqui perguntar: a “mesmice” de Black Ice deve ser entendida como personalidade ou seria a prova de que a fonte de inspiração secou? Sinceramente... Não sei. A mim somente cabe dar alguns conselhos. Se você é daqueles que ama o que o AC/DC sempre fez, encha os pulmões e grite com toda força: “It’s Only Rock N’ Roll But I Like It”. Agora, se você é daqueles que gosta de descobrir coisas novas, ouvir bandas experimentais; então só lhe cabe parodiar um famoso conceito publicitário: a música continua a mesma, mas meus cabelos... Quanta diferença!

AC/DC
Black Ice

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Boa Música de Facto

Gostoso é garimpar à procura de pedras preciosas que possam provar que a boa música ainda está viva pelo mundo afora. E eis que de Barcelona descobrimos um verdadeiro diamante. Estamos falando da banda Facto de La Fé y Las Flores Azules. Diferentemente do nome difícil, suas melodias ficam facilmente grudadas em nossa mente, mostrando que é possível sim fazer uma mistura perfeita com batidas fortes, letras profundas, vocais cantados e falados, linhas de piano capazes de dar inveja a Chris Martin, líder da banda inglesa Coldplay. "Facto de La Fé” é um hino à vida moderna. Uma pintura sonora que usa como tinta tudo o que há de bom e o que há de mal numa metrópole. Seja ela qual for, onde quer que esteja. Na verdade, o que temos aqui é uma partícula do mundo globalizado, forte por parecer único. Apenas parecer. Se parasse por aqui, o trabalho dessa banda já teria valido a pena. Mas, assim como em todo diamante, existem outras facetas de brilho raro. A música “Mar El Poder Del Mar” é uma delas. Igual a tantas outras canções, ela também fala de amor, mas as semelhanças param por aí. Isso porque não se trata de uma abordagem melosa, clássica maneira do pop óbvio e sem graça ao qual estamos acostumados a ouvir nas rádios. Muito pelo contrário: o amor é retratado como um sentimento carnal e, portanto, único. Marcado por instintos, cuja beleza está exatamente em todos os seus defeitos e as suas contradições. Facto de La Fé y Las Flores Azules é isso em um muito mais. Descoberta rara e preciosa, uma prova incontestável do imenso poder da música para tocar nossa alma. “Esto no se paga. Esto no se paga.”

Facto de La Fé y Las Flores Azules
Facto de La Fé y Las Flores Azules VS El Monstruo de Las Ramblas