segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Blues com Sotaque Carioca

Uma das melhores coisas para qualquer apaixonado por música é encontrar um CD que estava escondido entre tantos outros e se lembrar do quanto ele é bom. Esse é o meu caso com o álbum Salamandra, lançado em 1994, pela banda carioca Blues Etílicos. Logo na primeira música, Mateus Vai ao Circo, a banda mostra que não está para brincadeiras e desfila toda a versatilidade dos seus integrantes, além da grande sintonia entre eles. Em seguida vem a poderosa “Black Letter”, que não passa desapercebida para quem gosta de solos de guitarra cheios de swing pelo uso do slide e do pedal wah wah. E já que estamos falando de presença, na sequência temos a participação de Ed Motta, que, com sua voz multifacetada, apresenta-nos uma ótima versão do clássico People Get Ready da banda The Impressions. Outro ponto do álbum que vale ser destacado é o talento do gaitista Flávio Guimarães. Apesar de toda a sua versatilidade, Flávio reforça seu talento justamente na música que dá nome ao CD. Nela, a técnica apurada dá lugar a um solo carregado de inspiração, criando uma atmosfera vigorosa e contagiante. Até aqui tudo bem, tudo ótimo. Mas aí você, amante do blues, deve estar se perguntando onde diabos está “aquela batida”, ótima para as horas de bebedeira e de dor de cotovelo. É aí que entra “I Shouldn’t Cry For You”. Com um toque amargo, a música fala muito bem do vazio de uma relação mal resolvida. Depois, a jazzística Five and a Half e o rock “na medida” de Gamblers. Após mais alguns blues da melhor qualidade, chegamos ao fim de um álbum honesto e sem firulas. Um álbum que nos dá a ótima impressão de que ele foi gravado em um take só, numa tarde quente do verão carioca. E já que estamos falando de sol e que o blues é etílico, resta-nos pedir “mais uma dose, é claro que eu estou a fim”; como diriam seus conterrâneos Cazuza e Frejat.

Salamandra
Blues Etílicos