Por fim, fugindo do romantismo meloso e previsível, a obra de Noe prova que a vida é repleta de sentimentos contrários – amor e ódio, complacência e vingança; vida e morte – onde um gera o outro, numa influência mútua. Fica claro, então, que o senhor de todos esses sentimentos é o tempo, que destrói tudo, segundo o diretor. E isso é irreversível.
“Irreversível” não trata do amor platônico, perfeito e desinteressado. Mas sim de um amor bem à moda humana: com todas as suas taras e imperfeições. No filme encontramos, em poucos cortes e em cenas extremamente fortes, uma linguagem que por si só é afiada, onde não existem meias palavras. São em diálogos sinceros e diretos, cheios de contradições, que é apresentado um lado obscuro – ainda que realista – do amor, bem como todas as suas surpresas, oscilando entre momentos de pura ingenuidade àqueles marcados pelo egoísmo e pela insegurança.
Com uma direção primorosa, Noe desvenda e desconstrói, numa perfeita metalinguagem, a prova de que toda ação gera uma reação. Em “Irreversível” temos o poder do tempo sobre as relações amorosas, sendo ele capaz de levar aos gélidos longos anos de convivência ou – por uma simples obra do destino – à tragédia fatal que põe fim a tudo.
Pra começar, “Irreversível” garante seu mérito por ser um filme corajoso, em que o amor é apresentado de forma nua e crua.
Irreversível
Gaspar Noe